Seis perguntas e respostas sobre o livro “O Pensamento Econômico e Social de Calvino” de André Biéler
1. O que são para Calvino as causas instrumentais ou segundas as ações de Deus?
Para Calvino foi a providência divina que permitiu o contexto e a situação econômica que Genebra estava passando, pois foi isto que predispôs esta cidade para com a reforma e as transformações religiosas que viria a passar. O desenvolvimento econômico de Genebra influenciou a sua história política e religiosa. A abertura de espírito e o amor a liberdade, que o comércio e as trocas humanas comunicam, contribuíram largamente para a introdução da reforma em Genebra.
2. Como Calvino entendia a questão da assistência social e o papel do diaconato na sociedade?
Segundo Calvino a vida religiosa e a vida material do crente estão ambas sujeitas a mesma ordem de Deus. A assistência social anda em paralelo e completa a primeira etapa da reforma, que é a de redirecionar espiritual e moralmente a nação. Sob o modelo da Igreja Primitiva, instituiu ele o diaconato, sendo a quarta ordem do governo eclesiástico. O serviço social dos diáconos é concebido como um ministério eclesiástico, ao mesmo título que o ministério pastoral. As duas funções básicas do diaconato são a gestão dos bens da comunidade e o cuidado dos enfermos.
3. Quais foram as principais obras sociais realizadas por Calvino em Genebra?
A reforma Calvinista sempre teve uma grande preocupação com a assistência social, crendo ser ela uma continuidade da assistência espiritual. Implantada a reforma em Genebra, viu-se necessário executar medidas urgentes de assistência. Além do famoso Hospital Geral, (criado um ano antes de Calvino chegar em Genebra.) destinado a dar assistência aos pobres, aos enfermos, órfãos e idosos, medidas de ordem econômica foram tomadas visando amenizar a grande diferença econômica entre a população, devido a má distribuição de renda, a cidade era dividida basicamente entre mendigos e burgueses. Foi fixado o preço da venda do pão do vinho e da carne. O serviço de medicina social, a extinção da mendicância, criando albergues e readaptando profissionais para novas profissões, o reajustamento dos salários, a intervenção de Calvino junto ao Conselho para que este desenvolva a indústria da tecelagem. Para a educação do povo, principalmente das crianças, foram tomadas medidas prioritárias. O próprio diaconato instituído por Calvino foi uma grande obra social.
4. Segundo Calvino qual a grande causa das mazelas sociais?
Segundo Calvino, no princípio Deus havia estabelecido a produção dos bens materiais de forma a vir suprir as necessidades de toda a humanidade. Quando o pecado entrou na humanidade, toda a natureza foi abalada, produzindo até mesmo “cataclismos e anormalidades” trazendo um desequilíbrio na produção natural dos bens materiais, que iriam prover as necessidades da sociedade. Além disto, foi principalmente a maldade no coração do homem que nos trouxe estas mazelas sociais. O pecado no coração do homem o fez incrédulo, a assim este deixou de confiar na providência divina, desde então a humanidade entrou em uma desenfreada corrida pela riqueza, quebrando a harmonia econômica da Criação. O egoísmo, a avareza e a cobiça dominam o coração da sociedade, que sem nenhum critério acumula riqueza para si, não dando oportunidade para que os menos favorecidos consigam superar a pobreza em que vivem. O dinheiro sendo o senhor nestes corações, criou esta discrepante diferença de renda que a sociedade vive.
5. O que se entende como pecado da secularização do trabalho?
A secularização do trabalho dá-se quando este toma o lugar de Deus, e não mais exerce o seu fim. O trabalho quando exercido da forma que Deus estabelece, é benéfico e Deus é glorificado através dele. A bênção do Senhor está sobre as mãos daquele que trabalha, quando este trabalha crendo que isto é possível tão somente pela graça e dom do Senhor. É em vão que laboram os homens em cultivar a terra, se Deus não lhes envia a chuva do céu pois o trabalho só irá prosperar se Deus regar-lhe a terra. Quando o trabalho é visto como fruto tão somente do homem, e buscando sua própria glória, de nada adiantará levantar de madrugada e trabalhar arduamente pois não haverá a benção de Deus. O pecado da secularização do trabalho consiste em não glorificar a Deus no trabalho, seja em que função que isto ocorrer.
6. Qual a contestação apresentada no livro em relação a tese defendida por Max Weber da relação entre Capitalismo e Protestantismo?
A respeito da tese de Max Weber que tenta relacionar a época do reformador com os movimentos religiosos de origem Calvinistas deformados e secularizados do séc. XVIII e assim consequentemente relacionar o capitalismo com o protestantismo, pode-se dizer que:
- Simplesmente foi ignorado os dois séculos de história passados, a revolução industrial e a própria deformação destes movimentos que muito se distanciaram dos princípios do início da reforma.
- É dito que Calvino durante a reforma dá muito destaque ao trabalho, e de alguma forma isto veio a desencadear no capitalismo. O livro contesta dizendo que Calvino apenas deu ao trabalho um significado Bíblico, desenvolvendo assim uma ética profissional nova em relação às antigas concepções medievais ainda presentes.
- Quanto aos exageros doutrinários que posteriormente vieram a fecundar-se em movimentos subsequentes, o próprio Calvino quando ainda vivo havia condenado como viciosas distorções.