Há muitas teorias que tratam dos nossos conflitos interiores, muitas vezes originados em relacionamentos familiares, especialmente com os pais. Quer nossos pais tenham sido opressores ou mesmo pais indiferentes, inegavelmente eles marcaram e determinaram quem somos e o que fazemos. A nossa necessidade de aceitação, aprovação, confirmação e muitas outras necessidades podem ter sua origem neste conflito da infância. A ciência do comportamento tem contribuído significativamente com o homem na superação destes conflitos.
No entanto, existe um nível mais profundo dos nossos conflitos, um nível que a tradicional ciência do comportamento não alcança, que eu chamo de “Conflitos da existência”. O campo da Metapsicologia (psicologia metafísica) tem respostas bem coerentes e consistentes. O ser humano é essencialmente um ser espiritual e Teo-referencial, ou seja, “Deus é o ponto de referência último de toda a realidade” (Cornelius Van Til). Como diz o Ph.D. Davi Charles Gomes, quando esta Teo-referência é negativa, ela revela o estado de apostasia do ser humano, pois mesmo não crendo em Deus, o homem crê em algo, coloca sua esperança em algo e faz deste algo seu ídolo de culto.
Assim, o relacionamento do homem com o seu Pai Espiritual define todos os seus demais relacionamentos, e enquanto ele não resolver seu problema com o seu criador, ele não conseguirá viver em harmonia com o seu EU, nem com seu MEIO (criação) e muito menos com o seu PRÓXIMO. Este rompimento da criatura com o criador trouxe traumas e complexos muitas vezes inconscientes. O ser humano vive em uma constante fuga, tem lutas e conflitos em seu interior, e não sabe realmente qual a origem e causa disso tudo. Vive em guerra e tem um comportamento destrutivo (do outro e do meio em que vive), mas principalmente auto-destrutivo, pois um ser Teo-referencial foi feito para adorar, e enquanto ele não adora a Deus, irá adorar qualquer outra coisa, pessoa ou até a si mesmo. Este comportamento é chamado de idolatria, ou seja, não adorar a Deus nos leva a criar “deuses pessoais”, ídolos que escravizam e corrompem. Com o tempo nos tornamos semelhantes ao que adoramos. Relacionamentos, por mais legítimos que sejam, quando são regidos pela idolatria eles se corrompem. Adorar pessoas, coisas, carreira, sucesso, conquistas, prazeres ou qualquer outra coisa que não seja Deus, pode ser uma experiência muito auto-destrutiva. Esta é a raiz de todas as mazelas da humanidade, da opressão e da violência, do egoismo e da indiferença que gera crises familiares, sociais e humanitárias. A insensatez e loucura humana que destrói ao outro, a natureza e a si mesmo tem sua origem mais profunda neste conflito interno e espiritual, um conflito existencial.
Alguém negará que é desta forma que caminha humanidade? Alguém negará que o homem está literalmente se autodestruindo enquanto tenta preencher seu vazio existencial, que não pode ser preenchido por nenhuma outra pessoa, conquista ou experiência? Somente com a restauração deste relacionamento Teo-referencial, o homem poderá encontrar novamente paz e sentido. Certamente não seremos mais felizes quando realizarmos todos os nossos sonhos e conquistas pessoais, por mais legítimos que sejam. A solução também não virá meramente com educação, conquistas sociais, saúde e bem estar, como muitos pregam, por mais importantes que estas coisas possam ser. Mas a solução para os conflitos mais profundos do homem, seus conflitos existenciais e que são gatilhos para outras mazelas da humanidade, só virá com a restauração da sua alma, o que só é possível com a reconciliação da criatura com o seu criador. Depois disso, com o tempo as demais coisas encontrarão o seu devido lugar. Enquanto isso não ocorre, o homem continuará com a sensação de ter saudades de um lugar ou de uma pessoa que ainda não conhece, com uma vida vazia de sentidos e vivendo sem um propósito superior.
Além disso, um fato claramente observável é que a natureza humana simplesmente nega, rejeita e foge de Deus, por isso não o recebe e nem pode recebê-lo naturalmente. Por isso há no homem uma profunda e inevitável necessidade existencial de criar para si teorias, filosofias e ideologias, com o propósito de racionalizar e justificar esta negação da realidade patente, na tentativa patética e frustrada de superar este Conflito da existência humana.
Mas há uma boa notícia, sim todos os anos nos quatro cantos do mundo é anunciada esta boa notícia para toda a humanidade. No período do Natal somos lembrados do convite do Pai das luzes para todos os homens e mulheres retornarem para casa, para a luz e lucidez espiritual dos filhos de Deus. Este convite está em vigor durante todo o ano mas é inegável que o Natal é um lembrete de que a promessa de Deus feita aos homens, desde os tempos mais remotos, se cumpriu diante de todos, dividindo a história do homem em antes e depois de Cristo, e dividindo a própria humanidade, entre os que aceitam e os que rejeitam este convite. Somos lembrados de que Deus, ao enviar Seu filho ao mundo como mediador e conciliador, nos deu a possibilidade de resolver o conflito de todos os conflitos, atingindo assim a raiz dos nossos problemas mais profundos e existenciais. Por isso lemos que Deus, sendo rico em misericórdia, nos dá o poder (gr. dinamus) de sermos gerados (gr. gennao) filhos de Deus, ao crermos e recebermos Seu filho Jesus que veio ao mundo.
Esta sabedoria milenar nos ensina também que adorar a Deus, amar as pessoas e gostar das coisas é o segredo desta paz interior tão almejada pelo homem e por todas religiões do mundo. Esta paz com Deus que produz uma paz interior é condição para o equilíbrio com o exterior, o meio em que vivemos. Neste sentido, desejo que você encontre o sentido deste convite e receba esta graça para superar os conflitos mais profundos de sua alma: restauração e reconciliação com o seu Pai Eterno e Criador, e consequentemente com você mesmo, com o outro e com o meio em que você vive.
“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” João 1:12-14
Sugestão de leitura: A METAPSICOLOGIA VANTILIANA: UMA INCURSÃO PRELIMINAR (VOLUME XI) POR DAVI CHARLES GOMES